Notícias A arte como instrumento na luta por Direitos Humanos

A arte como instrumento na luta por Direitos Humanos

09 dez 2022

A arte como instrumento na luta por Direitos Humanos
A arte como instrumento na luta por Direitos Humanos

Conheça artistas de diversos segmentos que eternizaram em suas obras a necessidade de efetivar os Direitos Humanos no Brasil e no mundo

Neste sábado, dia 10/12, é celebrado o Dia Internacional dos Direitos Humanos. É uma data importante para refletir sobre como avançar na concretização da justiça social no Brasil e no mundo. O Instituto Água e Saneamento (IAS) homenageia a data por meio de um dos maiores reflexos da essência humana: a arte, que também é uma ferramenta essencial na luta por direitos. 

Ainda hoje, há quem acredite que os Direitos Humanos (DHs) são um dispositivo inventado para proteger certos grupos ou pessoas. Os DHs são o reconhecimento de que, apesar das diferenças culturais e simbólicas, existem aspectos básicos da vida humana que precisam ser respeitados e garantidos. Logo, eles são aplicados a todas as pessoas, porque são universais e inalienáveis, segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento base dos DHs, lançada em 10 de dezembro de 1948, após o período da Segunda Guerra Mundial.

Libertadora, a arte tem o poder de tocar a alma e produzir experiências transformadoras, além de dar visibilidade a questões relacionadas à busca por igualdade e dignidade. No filme “O Pianista”, que conta a história do artista polonês Wladyslaw Szpilman, ao tocar o seu piano o protagonista é salvo pela arte. 

Não somente nos filmes os Direitos Humanos são expressos, reivindicados e consagrados por grandes nomes da música como Bob Dylan, com destaque para a música Hurricane sobre o ex-pugilista negro preso injustamente nos EUA; e Johnny Cash, que gravou o álbum At Folsom Prison dentro de um presídio de segurança máxima nos Estados Unidos, enfrentando críticas ao tentar demonstrar que toda a vida merece dignidade, na década de 1960.

Da Jamaica para o mundo, o cantor e compositor Bob Marley expôs as desigualdades racial e social em suas músicas e ressaltou que, para que não haja mais guerra, é necessário que “os Direitos Humanos básicos sejam igualmente garantidos a todos, sem discriminação de raça”.

“That until the basic human rights are equally guaranteed to all, without regard to race.” Bob Marley, cantor e compositor jamaicano. Foto: divulgação.

Os Direitos Humanos também estão presentes na obra de Françoise Schein, arquiteta e urbanista belga que apresenta trabalhos artísticos-educativos sobre o tema nos quatro continentes. O Brasil ocupa um lugar especial no coração da artista. Françoise assina a primeira intervenção artística sobre Direitos Humanos em uma estação de metrô no país: Luz do Brasil, obra da Estação da Luz, em São Paulo. 

No Brasil, artistas marcaram a história com suas canções como Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Elis Regina, Geraldo Vandré e Raul Seixas. Gal Costa, que recentemente nos deixou, desafiou a Ditadura Militar com o show “Gal a todo vapor”, em 1971, participou dos Doces Bárbaros e gravou diversas músicas de protesto. Gilberto Gil, também integrante dos Doces Bárbaros, nos convida a pensar o amor, as descobertas e criticar prisões, sejam elas mentais ou físicas. “Racha, os muros das prisões”, ele ordena em Extra, álbum lançado em 1983.

Anos depois, diante da desigualdade social que assolava – e ainda assola – o país, o rock tornou-se um dos porta-vozes da indignação diante da falta de perspectivas. “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte, a gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte”, contava Arnaldo Antunes, no Titãs, em 1987. A música “Comida”, dele, de Marcelo Fromer e Sérgio Britto foi regravada diversas vezes.

Água e esgotamento sanitário também são direitos humanos

“Traga-me um copo d’água, tenho sede, e essa sede pode me matar”
Dominguinhos e Anastácia

Períodos grandes de estiagem com migrações para fugir da seca, grandes e caudalosos rios, mangues, enchentes, alagamentos, crianças brincando em comunidades com esgoto a céu aberto. Em um país com diversidade climática e de biodiversidade, as mais diversas manifestações artísticas retratam belezas e mazelas relacionadas à abundância e à escassez de água. Invisível, na maioria das vezes, é a importância do esgotamento sanitário para a saúde da população e preservação ambiental na arte. 

Confira a playlist Água, Saneamento, Clima e Direitos Humanos : https://spoti.fi/3pzjvSC

Composições nacionais e internacionais abordam temas referentes à água, clima, saneamento básico e direitos humanos nessa playlist selecionada e disponibilizada no canal do IAS, no Spotify. Desde Asa Branca, do saudoso Luiz Gonzaga, sobre a seca no Brasil, até a canção-protesto Earth Song, do astro Michael Jackson, sobre as consequências da influência do homem na natureza. A lista inclui, ainda, “You Must Be Kidding”, do Will Butler, da banda Arcade Fire, canção inspirada na seca prolongada de São Paulo e o colapso no sistema Cantareira em 2015.

O o à água potável e à coleta e tratamento de esgoto são direitos humanos reconhecidos pela ONU. No entanto, ainda falta muito para que sejam universalizados no território brasileiro. 107 milhões de brasileiros não têm o adequado ao serviço de esgotamento sanitário e 86 milhões têm o à água de forma precária.

Chico Science e Nação Zumbi visibilizaram, em Manguetown, a realidade de quem vive em regiões precárias, ocupando mangues e morros em toda a região metropolitana do Recife. Em Alagados, os Paralamas do Sucesso cantam a situação de ocupações urbanas precárias em relação ao saneamento básico. 

Brasil, terra indígena

Em um texto sobre direitos humanos e arte, os povos originários brasileiros merecem todo o destaque. As populações indígenas mantêm uma relação íntima com a água. Em “Sabedoria das Águas” (Global Editora, 2004), Daniel Munduruku conta a história fictícia do indígena Koru, que, ao mergulhar na sabedoria das águas do rio Tapajós, descobre mistérios de seu próprio coração. 

Em “Livro das águas – Índios do Xingu” (Instituto Socioambiental, 2002), professores indígenas, Maria Cristina Troncarelli, Estela Würker e especialistas do Instituto Socioambiental (ISA) fizeram uma publicação abordando os recursos hídricos com diversas informações sobre a água doce e salgada, seu ciclo, a relação entre água, clima, solo e vegetação, os impactos ambientais, mas também os seres de acordo com a cultura indígena.

No livro “Onde a onça bebe água” (Cosac Naify, 2015), Veronica Stigger, a partir da obra de Eduardo Viveiros de Castro, apresenta “uma história contada à maneira de um mito, uma experiência de transformação da tradição mítica ameríndia, tradição na qual a transformação é o tema maior. Tudo ali existe para virar outra coisa.” Por exemplo, a agem em que cocô vira fruta nos lembra da urgência de transformar, na nossa sociedade, o esgoto em fertilizantes e outros insumos agrícolas. Uma aula sobre como a sociedade brasileira pode aprender com as sociedades indígenas, de uma forma bem poética, lindamente ilustrado.

Além da literatura escrita e inspirada por indígenas, inúmeras produções recentes no cinema, no teatro, nas artes plásticas e exposições nos principais espaços expositivos do país são a prova de que a questão indígena está em plena ascensão. O documentário “Pisar suavemente na terra” (2022) de Marcos Colón, lançado na 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, mostra a luta de lideranças indígenas para proteger seus territórios. O projeto TePI – Teatro e os Povos Indígenas, com direção de Andreia Duarte, apresenta “a importância do protagonismo artístico indígena em sua expressão e representatividade”, a partir da diversidade e valorização do corpo que o teatro propicia. 

Também no Instituto Moreira Salles (IMS) está em cartaz a exposição da produção audiovisual de diretores indígenas, “Xingu: Contatos”, em cartaz até abril de 2023. Ainda tem “Nhe´e Porã: Memória e Transformação”, exposição sobre as línguas indígenas faladas hoje no Brasil, no Museu da Língua Portuguesa, também em cartaz até abril de 2023 (https://www.museudalinguaportuguesa.org.br/memoria/exposicoes-temporarias/nhee-pora-memoria-e-transformacao/).

A relação entre arte e direitos humanos é inesgotável. Trouxemos nesse texto algumas sugestões e preparamos uma série de indicações de obras literárias, filmes, documentários e músicas a serem compartilhadas em nossas redes sociais. Acompanhe  e ajude-nos a produzir esse conteúdo, que será constante. Envie sugestões pelas nossas redes ou pelo email [email protected].

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